O governador Rui Costa pode comprar uma briga com parte do próprio partido, o PT, caso decida colocar o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Angelo Coronel (PSD), em uma vaga para o Senado na sua chapa majoritária, preterindo a senadora Lídice da Mata (PSB), que concorre à reeleição. O Bahia Notícias apurou com um petista ligado a uma corrente pró-Lídice que alguns grupos têm bancado a candidatura dela, porque defendem a importância da representatividade na chapa. Caso a senadora fique de fora, a composição só teria homens – Rui, Jaques Wagner (PT), João Leão (PP) e Coronel – todos brancos. Para este setor do PT, pelo menos um dos critérios, racial ou de gênero, precisa ser atendido. Mulher, a senadora, portanto, preencheria o quesito gênero, dando um ar de diversidade para a chapa. “Não tem como a gente apoiar uma chapa toda branca. A questão da cor e da mulher é muito forte, importa muito para o PT. Vamos bancar a candidatura da Lídice”, afirmou o petista, que compõe um setor mais à esquerda da sigla. A questão para esse grupo não é o PSD, mas o nome indicado pelo partido. Quando o deputado federal Antônio Brito, também do PSD, chegou a ser aventado para uma vaga na majoritária, o PT não teve resistência a ele, pois, por ser negro, a representatividade estaria posta. Mas, já no caso de Coronel, a coisa muda de figura, porque essa divisão petista não estaria disposta a apoiá-lo. Caso ele seja o escolhido de Rui, não haveria cisão no PT, mas a avaliação é de que a agremiação não se engajaria na campanha do presidente da AL-BA ao Senado. “Vou usar uma metáfora para explicar isso. Quando César Borges foi indicado candidato ao Senado na nossa chapa, nós dissemos que não iríamos apoiá-lo e que ele iria perder. Ele se deu conta disso, saiu do nosso grupo e perdeu”, afirmou a fonte para exemplificar qual a sensação de determinados setores petistas em relação a Coronel. Nos bastidores, avalia-se que o nome dele não seria tão bem aceito pelo eleitorado de esquerda de partidos como o PSB de Lídice, o PT e o PCdoB. Por isso, sua tentativa de costurar apoios e evitar atritos com a senadora, porque receia enfrentar uma rebelião dos eleitores socialistas, caso ela seja alijada da majoritária. Como mostrou nesta segunda-feira (28) a pesquisa P&A/Bahia Notícias, Lídice aparece em segundo lugar nas intenções de voto para o Senado na Bahia. Perder esse tanto de votos, então, seria perigoso para as pretensões eleitorais de Coronel. Outra ação do presidente da AL-BA para se aproximar mais da esquerda foi a convocação de uma sessão especial em homenagem ao ex-presidente Lula, após a prisão dele, que está na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Assim, o social-democrata tenta se desvincular da imagem mais ligada à centro-direita – Coronel foi apoiador do carlismo por muito tempo – para conquistar os corações e mentes da esquerda "mais raiz”. Apesar da questão e do próprio apoio do PT nacional a Lídice, a avaliação é que a situação é mesmo mais favorável para Coronel. Nos próximos dias, o governador deve ter uma reunião com a senadora, na qual seu destino político será selado. Nos bastidores, apostam que, para acomodá-la, Rui vai propor que Lídice seja candidata a deputada federal. Em troca, ela receberá apoio petista como candidata a prefeita de Salvador em 2020. Procurado pelo Bahia Notícias, o presidente estadual do PT, Everaldo Anunciação, minimizou as tensões internas em relação à montagem da majoritária. Ele admitiu que, realmente, o partido tem uma relação histórica com a senadora, mas disse que a legenda não pode impor sua escolha ao resto do grupo. “O PT tem uma cultura da relação com Lídice, tem uma história construída mais longa, isso leva a um olhar de proximidade. Mas precisamos trabalhar com decisão coletiva dos demais partidos da base. Não vamos lá para colocar apenas o olhar do PT, da esquerda. Seria até ilegítimo porque temos 50% da chapa ainda querer influenciar em uma decisão do restante”, ponderou. Ainda segundo Everaldo, os questionamentos de setores do partido em relação à participação de Lídice estão sendo ouvidos pela direção e discutidos internamente. “Temos ouvido as manifestações, algumas públicas, outras internas. Vamos estar monitorando isso no diálogo”, afirmou.
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